Fazia três dias que estávamos procurando por aqueles Drakkars que, segundo um velho contato da Ordem de Sekhem, estavam escondidos próximo às cavernas em Ankh-Tawy. Long’er e eu já tínhamos olhado a região, mas não tínhamos ido até aquele lugar em especial.
– Sabe, Meresamun – chamou-me
Long’er – Já faz cinco anos que estamos nessa jornada, semeando o conhecimento
sobre a forma Imane, sobre as Mansões Lunares e, ainda, mesmo com o poder da
Sela, não consigo vislumbrar um mundo próximo que seja próspero para os
Drakkars.
Long’er, com aquela tal Sela da Eternidade, tinha o poder de ver
o futuro e o passado e, claro, todas as opções que poderiam ser tomadas. Porém,
mesmo com aquela bênção divina, o massacre do qual sobrevivêramos, onde muitos
de nossos queridos amigos foram assassinados covardemente pelo Clã dos
Protetores, tinha mexido profundamente com ela.
– Sabe do que eu sinto falta? –
perguntei, tentando mudar seu foco para algo mais leve.
– Do quê? – ela sorriu.
– De vê-la usando as Garras de
Sekhmet que nós lhe demos no dia de sua iniciação na Ordem de Sekhem.
– Eu as guardo com todo o
carinho do mundo – disse Long’er – Mas, com o poder dos Sopros na forma de
Terceira Grandeza, usá-las não faria sentido algum. Não existe Drakkar ou
Protetor que possa me enfrentar. Por isso não preciso recorrer às minhas
belíssimas Garras de Sekhmet – ela sorriu, tentando bajular as garras.
– Sinto falta da Rainha
Leonesa... – comentei, lembrando-me de minha mestra.
Nós estávamos nos aproximando
das cavernas enquanto Rá iniciava sua descida ao submundo. Assim, logo a noite
estaria sobre nós e o calor escaldante daquele deserto se dissiparia.
– Tenho certeza de que a
Rainha está bem... – disse Long’er – Mas, o que eu não entendo, é de como você
abdicou da chance de usar a coroa dela, para vagar comigo pelo mundo.
– Abdicaria mil vezes mais –
sorri, abraçando-a – Você é mais importante do que o poder da Rainha Leonesa.
Desde que fôramos salvas pela
avó de Long’er, durante a guerra sangrenta contra os insurgentes Drakkars que
enfrentaram o Grande Palácio dos Protetores, nós duas peregrinávamos pela Terra,
juntas, como as melhores companheiras do mundo. Ela, depois de um tempo,
finalmente cedeu ao seu coração e passou a demonstrar um carinho incomparável
para comigo. E, eu, claro, não podia estar mais feliz.
– Veja – ela apontou para uma
caverna – Acho que é lá...
– É o que parece... –
comentei.
Seguimos em direção à caverna
e nos aproximamos com cuidado. Não podíamos assustar os moradores do lugar,
visto que poderiam fugir e nunca mais os acharíamos; pois muitas cavernas
daquela região eram interligadas em um complexo emaranhado de túneis.
Entramos naquele lugar escuro
e, depois de alguns minutos andando a esmo, ouvimos o som de conversa.
Seguimos pela escuridão,
guiando-nos pelo som e, logo, avistamos o que parecia ser uma espécie de
iluminação trêmula, como se fosse a luz de uma pequena tocha.
– Acho que tem gente ali – eu cochichei,
apontando.
– Vamos devagar... – sussurrou
Long’er.
Andamos mais um pouco até
chegarmos a uma área mais larga e alta do interior da caverna, onde uma pequena
família parecia fazer sua refeição à luz de uma simples tocha.
– Que a paz esteja com
vocês... – disse, cumprimentando-os.
Eles se assustaram e se
levantaram. O pai, mais velho, posicionou-se entre nós e sua família.
– Quem são vocês? – ele disse,
nervoso e amedrontado – Nós só queremos paz. Não queremos problemas!
– Fiquem calmos – disse Long’er
– Meu nome é QingLong e eu sou uma Drakkar – ela iluminou seu olhos com o
brilho azul de seu Elemento – E essa é Meresamun... – ela apontou para mim –
Ela é uma das Leoas da Ordem de Sekhmet.
Ora, Long’er também o era.
– Você também... – ri.
– Uma Leoa! – disse a esposa
daquele homem, vindo em minha direção e se prostrando.
A Ordem de Sekhmet, conhecidamente composta apenas pelo sexo feminino,
era muito admirada por todas as mulheres das Terras Negras e, assim, o respeito
daquela mãe de família era algo natural. Ela era também, no seu íntimo, uma
Leoa ao seu próprio modo.
Assim nos fomos convidadas a
nos juntar a eles para comer e, sabendo que encontraríamos Drakkars que,
estando escondidos, estavam nas maiores dificuldades, levávamos muita comida e
água conosco para ajudar.
Desse jeito, para a felicidade
deles, pudemos fazer um banquete e, nele, Long’er explicou a cosmogonia Drakkar
e como era possível se unir ao Todo, acessando poderes além da imaginação, como
as Formas Imane e de Primeira Grandeza.
Aquele era o nosso jeito de
semear um conhecimento que, agora secreto, era estritamente proibido pelo
Grande Palácio dos Protetores; cujas mestras, das quais a avó de Long’er já não
fazia mais parte, ordenavam a caça e a execução de qualquer Drakkar que
procurasse ou disseminasse aquele conhecimento.
Segundo nosso propósito, Long’er
e eu viajávamos pelas mais diversas terras, visitando os mais estranhos povos e,
claro, vivendo nossa vida, tentando nos divertir e nos apreciar como
pudéssemos. Afinal, ao contrário dela, meu tempo no mundo era finito e eu
precisava fazê-lo valer a pena.
A Saga Draconiana – Fragmentos
Draconianos
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A. G. Olyver