Era
uma afronta que eu, filho de uma das mais influentes famílias do meio Drakkar,
não conseguisse dominar um Sopro de Classe B, como o Sopro Relâmpago. Aquilo
era ridículo. Ser um Drakkar Azul era algo que impunha respeito e, não conseguir
trazer aqueles relâmpagos para o plano físico na frente dos meus colegas,
fez-me parecer um perdedor.
–
Maldita Margareth – resmunguei comigo mesmo – Com aquele risinho irônico só
porque vai disputar a Graduação...
– Charles! – chamou-me Ferdinand, meu colega de quarto. Um
Drakkar Verde, boa vida.
– O
que foi? – inquiri ríspido.
Estava
descontente comigo mesmo e não estava afim de conversas.
– Viu
a nova Drakkar? – ele perguntou – Linda. Cabelos platinados até as costas,
olhos azuis como o oceano...
Balancei
a cabeça e segui em frente, ignorando-o. Ferdinand passava mais tempo
paquerando as garotas do que se dedicando a estudar o Sangue Draconiano e a
praticar os Sopros. Era um Drakkar de qualidade muito inferior e, claro, eu não
podia me permitir chegar ao fundo do poço com ele.
– Não
vai ao refeitório vê-la? – ele gritou de longe.
–
Ferdinand... – resmunguei – Deixe-me em paz... – segui para o quarto.
Precisava
me dedicar mais. Precisava estudar e praticar mais.
Os
Sopros do Elemento Água eram os mais poderosos de todos... bem, os segundos
mais poderosos. Preciso admitir: Sopros de Fogo são realmente devastadores.
Porém, pelo fato de serem Sopros tão violentos, a dificuldade de executá-los
também era alta. Conseguir Soprar o Sopro Relâmpago era o que fazia com que o
Drakkar Azul pudesse dizer que, realmente, agora dominava seu Elemento.
Sentei-me
na cama e fechei os olhos.
A
habilidade dos Sopros de Água estava em controlar as moléculas ao nosso redor,
ao ponto de condensar os íons para criar descargas elétricas. Produzir aqueles
feitos necessitava de uma concentração muito grande.
Seguindo
o passo a passo ensinado pela professora Azalee, na aula de Técnica de Sopro,
eu comecei a visualizar o ar ao meu redor ao ponto de quase vê-lo. A conexão
com ele, depois de algum tempo, naturalmente começava a acontecer.
–
Mover... é hora de mover... – murmurei.
Visualizei
as moléculas se movendo, circulando o meu punho entre aberto, e, então, comecei
a acelerá-las. Precisava que elas atingissem velocidades vertiginosas para que
o ar se ionizasse e gerasse relâmpagos de plasma.
Assim
que aquelas moléculas, em minha imaginação, tomaram uma rapidez sem precedentes,
prepare-me para Soprar. Precisava, assim que minha visualização tomasse uma
forma mais nítida, conjurar aquele efeito para o plano físico e esse era o
trabalho do disparador já programado em nossa genética por milhares de anos: o
Hasta.
Diferente
do exercício em sala de aula, ali, no meu quarto, eu não tinha a pressão dos
olhares, nem o tempo curto ou os cochichos de fundo. Era somente o Sopro e eu,
no nosso tempo, no nosso ritmo.
–
Vamos trazer esse Sopro para a superfície... – comentei fechando o punho livre
em frente à minha boca.
Da
mesma forma como fazia com outros Sopros mais simples, soprei o ar para dentro
do punho cerrado e rapidamente o levei à testa, abrindo e tocando os dedos,
indicador e médio, em minha fronte. Aquele era o sinal, o gatilho do Sopro. O
Hasta.
De
súbito senti uma pressão aumentar ao meu redor e ainda mais sobre meu punho
entre aberto onde eu visualizava as moléculas se agitando com maior intensidade.
Porém, foi quando o fechei completamente, com força, que senti a explosão de
energia que verteu no seu interior, escapando pelos lados em forma de poderosos
relâmpagos de brilho azul intenso.
Era
aquilo. Eu havia Soprado o Sopro Relâmpago. Eu era, definitivamente, um Drakkar
Azul.
Entretanto,
da mesma forma que veio, o relâmpago se foi.
– É...
– eu sorri – Agora preciso aprender como dominar esse poder...
O aprendizado nunca termina, não é mesmo?
A Saga Draconiana - Fragmentos Draconianos
TAGS: Dragão, Dragões, Fantasia, Literatura Fantástica, Drakkar
A. G. Olyver