Tudo aquilo parecia ridículo.
Uma das maiores empresas e agências musicais do mundo havia tido seu prédio
completamente destruído por um incêndio e, pior que isso, da forma mais brutal
possível: uma explosão que implodiu todo o local.
Fazia muitos anos que não
tínhamos um ataque terrorista na Basileia e, pensar que aquilo tinha acontecido
embaixo dos nossos narizes, com toda a tecnologia de rastreio possível, era,
como eu disse, ridículo.
– Como pode? – ri, percebendo
a música que começava a tocar na rádio.
Era de um grupo famoso. Aliás,
um não; O grupo musical mais famoso
do mundo na atualidade.
Chamado (D)Lorem, era composto por quatro garotas de vinte e poucos anos.
Elas eram incríveis. Todos as adoravam quase como se fossem divindades, e se
encantavam, não apenas com a beleza surreal e a voz hipnótica delas, mas com
todo o conjunto da estética aplicada nas roupas e danças. Não havia um jovem
adulto ou adolescente, fosse do gênero que fosse, que não conhecesse suas
músicas. Mesmo eu, já mais velho, inspetor de polícia, apaixonado por jazz e blues, sabia cantar todas as suas músicas. Aquilo tudo graças à
minha sobrinha que era uma fã apaixonada.
– Como pode... – suspirei
estacionando o carro em frente ao departamento onde trabalhava, lotado de
repórteres e emissoras de televisão do mundo todo; além de um mar de pessoas.
O que era mais ridículo do que
um ataque terrorista na Basiléia, era já termos pegado os suspeitos e, mais que
isso, parecendo uma piada, as quatro suspeitas de destruir o prédio da agência
musical, chamada LRD, era o próprio grupo (D)Lorem.
O qual, obviamente, era um dos grupos da agência em questão.
Com muito cuidado eu me
esgueirei por aquela multidão que gritava e entrei no prédio do departamento de
polícia.
– Elas já estão prontas? –
perguntei ao policial da custódia, assim que cheguei à ante-sala de
interrogatório.
– Sim, senhor. Elas estão as
quatro lá dentro – ele respondeu.
Eu, com os arquivos que havia
recebido logo que as prendemos em mãos, entrei na sala.
– Meu Deus... – murmurei para
mim mesmo ao vê-las.
Quatro crianças. Quatro
meninas que estavam no auge da carreira. Lindas e famosas. Com tudo o que todas
as garotas e garotos mais sonhavam na vida. Elas estavam ali, como suspeitas de
destruir um prédio inteiro, de onde os bombeiros ainda tiravam corpos. Aquilo
não deveria ser verdade, mas trabalhando a tanto tempo naquele mundo, eu já
havia aprendido a acreditar no impossível e no lado mais sombrio do ser humano.
– Bom dia... – disse,
sentando-me em frente delas, colocando a pasta de arquivos na mesa.
As quatro estavam visivelmente
assustadas e contidas, quase como se estivessem com vergonha.
Sinalizei para que o guarda da
custódia removesse as algemas. Aquelas quatro crianças não me pareciam
perigosas suficiente para estarem algemadas naquele momento. Já estavam presas
e, mais que isso, pareciam estar em choque.
– Você é a Sera Bee – apontei
para a loira de cabelos cortados nos ombros, todo picotado – Você é Nyala –
apontei para a negra de longos cabelos crespos e volumosos – Você é a SeongJa –
apontei para a asiática de cabelos pretos, lisos e compridos – E você... – apontei
para a latina de cabelos negros e curtos até o pescoço – É a Puma. Acertei? –
ri – Conheço todas vocês. Minha sobrinha... super fã.
Elas se olharam.
– Que, de fato... – abri os
arquivos – São os nomes artísticos de... Sera Brown, Nyala Gyasi, Ahn Seong-Ja
e Mariana Silva dos Santos.
Dos papeis eu tirei uma foto
do prédio destruído, ainda em chamas, e joguei à sua frente. Queria ver sua
reação.
– O que vocês podem me dizer
disso? – inquiri.
Todas olharam e baixaram a
cabeça. Estavam visivelmente nervosas. Porém, aquele nervosismo me mostrava
mais do que os outros policiais tinham visto. Não parecia ser sobre culpa, ou
medo de ir para a cadeia. Não... parecia mais sobre estar escondendo algo que
não era diretamente ação delas. Estariam protegendo alguém? O verdadeiro
culpado?
– Meninas... – eu me inclinei
sobre a mesa em sua direção – Se vocês estão protegendo alguém... falem. O
crime do qual estão sendo acusadas é o mais terrível que existe. Terrorismo...
é pena de morte.
Havia anos que não usávamos a
execução da pena de morte, pois não tínhamos mais ataques terroristas. Mas aquele
caso havia chocado o mundo.
– Logo a polícia antiterrorismo
estará aqui e... – eu suspirei fundo – Eles não vão ter piedade. Se tiverem
algo para falar, precisa ser agora, enquanto ainda posso ajudar vocês. Por isso
pergunto mais uma vez... estão protegendo alguém? Quem fez o ataque? – tentei
convencê-las a falar.
Elas se olharam novamente.
– Nós... – resmungou Sera Bee.
– Não! – gritou a Puma.
– Não fomos nós... – disse
Nyala.
As outras se espantaram com a
iniciativa dela. Pelo visto era a última que esperavam dar nos dentes.
– Então quem foi? – perguntei,
torcendo para tirar mais delas.
SeongJa pareceu ficar mais nervosa, arregalou os olhos e acenou com o queixo para trás de mim, dizendo:
– Foi ela...
Virei-me rapidamente e, antes
de desmaiar com a pancada que tomei na cabeça, pude ver uma mulher alta, séria,
de longos cabelos brancos e olhos azuis. E, segundos antes de perder
completamente a consciência, pude ouvir:
– Vamos... vou levá-las até Brigit.
A Saga Draconiana – Fragmentos
Draconianos
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A. G. Olyver