Aquele som terrível do alarme
ecoava pela minha mente, embaralhando meus sentidos. Não aguentava mais correr
e logo aquele Protetor, ao meu encalço, estaria em cima de mim.
– Não pare – repetia, tentando
arrancar forças das entranhas.
Meus próprios parentes haviam
me entregado e aquilo era inacreditável.
Meu pai, Drakkar Azul do qual
eu herdara o Elemento Água, também havia encontrado seu fim nas mãos dos
Protetores que nos caçavam sem piedade. Era inaceitável viver em um mundo onde
nós, descendentes dos Antigos Lordes Dragões, agora fugíamos como animais,
rastreados e caçados como presas fáceis daqueles predadores humanos.
– Wilhelm... – ouvi o Protetor
chamando meu nome enquanto eu me esgueirava pelos muros escuros dos becos frios
que se espalhavam pela cidade.
Aquela noite era minha única
chance de escapar para terras distantes, na esperança de encontrar o único
grupo de Drakkars que ainda conseguiam usar seus Elementos. Mesmo todos
acreditando que, de fato, esse grupo não existia e não passava de mito.
– Wilhelm... – o Protetor
repetiu, mais calmo, aproximando-se de onde eu estava escondido – Não adianta
fugir... Você não pode me enfrentar, e não pode correr. Eu sinto sua presença,
ainda que fraca. Você não pode Soprar... é como um lobo sem presas – ele riu.
Meu pai me contava histórias
de um passado onde nós, Drakkars, possuíamos uma extensa gama de habilidades e
éramos treinados em Institutos muito bem conceituados. Contava-me da lendária
Ordem da Garra do Dragão e de Drakkars incríveis, como Adrian, Sophie, Chaerin,
Helena... e tantos outros. Agora havíamos sido reduzidos a fugitivos sem poder
nenhum e amaldiçoados pelos Protetores que juraram exterminar cada um de nós,
mesmo que fôssemos, naquele momento, completamente inofensivos.
– Eu não fiz nada! – gritei
enquanto mudava de lugar para continuar escondido.
– Não fez. É verdade – berrou
o Protetor – Porém seus genes são uma maldição à raça humana e é importante que
sua espécie seja removida completamente. É a única forma de garantir que
episódios como a Grande Matança não se repita.
– Mas fomos nós mesmos que
impedimos que a Grande Matança continuasse – berrei começando a correr.
– Vocês também a iniciaram,
para começo de conversa... – ouvi a voz dele muito próxima enquanto senti que
meu corpo era preso completamente por uma força invisível.
O poder dos Protetores de
controlar nossa Essência Draconiana era nossa maior fraqueza. Não tínhamos
chance nenhuma se caso um deles deitasse os olhos em um de nós.
– Vocês são uma praga – ele
disse como uma sentença enquanto se aproximava.
Ele não estava errado, de
todo. Tínhamos sido nós, Drakkars, que iniciáramos a Grande Matança, onde quase
toda a raça humana fora destruída. Porém não era culpa de todos os Drakkars.
Nós mesmos nos erguemos contra nossa espécie para salvar o ser humano. Nem todo
Drakkar era violento. E aquilo havia acontecido há quase cem anos.
– Hoje nós somos... – agonizei
de dor enquanto sentia o poder dele pressionar cada fibra dos meus músculos ao
ponto de quase se romperem – inofensivos...
– Mentira... – ele me
sussurrou ao pé do ouvido – seus genes serão sempre uma ameaça. Hora de morrer...
– ele apontou para um canto escuro.
Daquela escuridão surgiu um
homem, de longo casaco preto e cabelos e olhos negros. Era diferente dos
Protetores, que possuíam olhos azuis e cabelos prateados.
– Sabe o que ele é? – o
Protetor me perguntou.
Fiquei em silêncio apenas
sentindo dor e temendo mais a cada passo que aquele outro homem dava em minha
direção.
– Ele é um emissário do
Palácio do Protetorado... – disse o Protetor cheio de orgulho – Ele é um Mestre
de Elite da Palma Servil. Existem poucos como ele... ele é um... Executor... – finalizou me gelando a espinha.
Ouvia falar dos Executores.
Eram como os Protetores, porém não modificavam suas Essências para se tornarem
como os outros e, mantendo-se inalterados, podiam desenvolver os níveis mais
altos das habilidades da Palma Servil, a técnica secreta do Protetorado. Os
rumores eram que os Executores podiam destruir um Drakkar com um simples fechar
de mãos.
– Drakkar – disse o Executor –
Pela Lei e pela decisão das Três Luzes do Protetorado, em vista das ações
Drakkars durante a Grande Matança, eu cumpro aqui sua sentença prévia de
execução.
Aquelas palavras protocolais
para ele eram texto decorado, mas para mim era a morte certa. O que eu poderia
fazer? Era um Drakkar que, como todos os outros, não podia mais Soprar, graças
ao Círculo que os Protetores mantinham ao redor do planeta. Maldita tecnologia
que lhes proporcionou anular nossos Elementos.
– Vá em paz – ouvi o executor
dizer enquanto eu fechava os olhos.
Naquele silêncio sinistro,
sentindo apenas o pulsar do meu coração, ouvi um estrondo tão alto quando o
mais poderoso relâmpago que já havia presenciado. Uma onda de choque se
espalhou por tudo e senti meu corpo livre novamente.
Abri meus olhos e vi, para
minha total surpresa, o Protetor e o Executor caídos, desmaiados ou mortos, não
sabia dizer. Ao lado deles, uma jovem asiática de cabelos azuis, cortados até
os ombros, olhava-me extasiada, como se não compreendesse aquela cena.
– Eu... – ela olhou em roda –
Acho que avancei demais... – riu enquanto franzia o queixo.
A Saga Draconiana - Fragmentos Draconianos
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A. G. Olyver